Métodos não-invasivos para diagnóstico de hepatocarcinoma

A recomendação de utilizar ao máximo os métodos não-invasivos para diagnóstico de hepatocarcinoma (HCC) é estabelecida há vários anos. Um novo estudo reforça esta indicação.

O câncer primário de fígado apresenta uma imagem radiográfica característica nos exames com contraste, o que permite o diagnóstico sem necessidade de métodos invasivos em pacientes de alto risco, com doença hepática crônica. O Colégio Americano de Radiologistas utiliza o Liver Imaging Reporting and Data System (LI-RADS) para padronizar os laudos. A especificidade do diagnóstico utilizando a classificação LI-RADS supera 90% em pacientes de alto risco para HCC, o que torna a biópsia desnecessária na maioria dos casos. 

A disseminação tumoral no caminho da agulha é um fenômeno conhecido e documentado, ocorrendo em 2,5% a 10% dos casos, levando a recorrência tumoral peritoneal e na parede torácica. 

O estudo apresentado no 2020 Annual Meeting of the Society of Surgical Oncology apoia a recomendação de utilizer todos os métodos não-invasivos para diagnosticar o HCC antes de proceder à biópsia.  Uma análise dos dados do National Cancer Database dos Estado Unidos, a sobrevida global foi menor em pacientes com HCC que foram submetidos a biópsia tecidual pré-operatória comparado com o grupo de pacientes que recebeu diagnóstico clínico. 

Detalhes do Estudo:

• Retrospectivo, caso-controle
• Critérios de inclusão: diagnóstico patológico de HCC e tratados com ressecção hepática ou transplante 
• Resultados: De 172.283 casos identificados entre 2006 e 2015, 16.366 alcançaram os critérios de inclusão:  12.100 (73,9%) eram homens e a idade mediana era 66,8 anos.  Procedimentos curativos estavam igualmente divididos entre hepatectomia e transplante (48.4% e 51.6%, respectivamente). Os investigadores reportaram que 70.4% dos casos teve diagnóstico clínico e  29,6% foram submetidos a diagnóstico invasivo. Após o pareamento, 4.251 pacientes foram selecionados em cada grupo. Os pacientes que foram submetidos a biópisa tiveram redução na sobrevida comparado com o grupo de diagnóstico clínico (mediana 121,76 vs. 63,38 meses ; P<0.001). A sobrevida em 5 anos também foi menor no grupo submetido a biópsia (mediana, 68,2% vs. 51,6%; P<0.001). Análise extratificada do grupo de pacientes transplantados mostrou que o ganho de sobrevida persistiu no grupo com diagnóstico clínico (mediana, 89,4 meses no grupo biópsia vs. 100,28 meses no grupo clínico; P<0.001).

O que muda na prática?

      Este estudo reforça que o diagnóstico de HCC deve ser realizado utilizando métodos não-invasivos, reservando a biópsia para casos excepcionais. 

Referência:

Liver Biopsy for Hepatocellular Carcinoma is Associated with Decreased Overall Survival in Patients Treated with Major Hepatectomy or Transplantation F.S. Dahdaleh,1 * S. Naffouje,2 G.I. Salti.1 1. Edward-Elmhurst Health, Naperville, IL; 2. Moffit Cancer Center, Tampa, FL. Abstract #63 Society of Surgical Oncology SSO 2020 – International Conference on Surgical Cancer Care